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sexta-feira, 7 de maio de 2010

SER OU NÃO SER MÃE?


No final do ano de 2008, do nada, descobri que ia ser mãe outra vez!


O choque foi grande, não era uma coisa planejada, nem sequer esperada, estava mais para acidente de percurso mesmo. Foram duas semanas complicadas, onde me debati entre a vontade e a necessidade, entre realidade e moralidade e, principalmente, tive de tomar uma decisão importante: percebi que, hoje em dia, a decisão mais difícil para uma mulher não é a de TER FILHOS, mas a de SE RECUSAR A TÊ-LOS, se este for o caso.

Sim, eu considerei seriamente essa possibilidade. Um filho é responsabilidade perene, muda nossas vidas, (de)forma pontos de vista, redefine nosso rol de prioridades.

Estaria eu, aos 39 anos, preparada pra recomeçar essa maratona de cuidar de uma sementinha até ela começar a gerar frutos? E mais: estaria eu preparada pra tirar o foco da minha vida de mim mesma, agora que ele, depois de 18 anos em que tive minha primeira filha, parecia finalmente retornar a mim, e me dedicar a outro ser que exigiria de mim todo tempo que eu tinha e também o que me faltava?

Ainda sem saber a resposta para nenhuma dessas perguntas, decidi ter meu terceiro filho.

Para isso, foi fundamental o apoio e carinho do meu atual marido. Apesar de nunca ter almejado ser pai, ele topou encarar comigo essa empreitada. Não pensem que foi um processo simples e tranquilo, afinal, é uma situação de conflito por si só, mas agradeço ao meu parceiro por não ter me forçado a ir contra minhas convicções e, principalmente, contra o grande amor que passei a nutrir em relação àquela criança que, até o momento, nada mais era que um amontoadinho de células.

Dizem que algumas pessoas nascem pra serem mães e pais e outras não. Descobri ser do primeiro tipo, daqueles que se afeiçoam rapidamente a seres que ainda nem se materializaram em seus braços. Daqueles que, mesmo quando a razão mostra que não é melhor, crêem que tudo dará certo, se houver esforço de todos os envolvidos.

Nem tudo é legal quando nos descobrimos grávidas (apesar do que insistem reafirmar os comerciais de televisão nesta época do ano). Enjoamos pra caramba, o desempenho profissional cai bastante e a vontade que temos é de ficar apenas recolhidas e nosso canto, a exemplo do que a própria mãe terra faz quando gesta. Mas, como mãe de terceira viagem, sabia que depois do terceiro mês, tudo isso melhoraria.

Infelizmente, esta viagem foi interrompida logo depois começar. No finalzinho do segundo mês, tive um aborto retido, o que, sem sombra de dúvidas, é uma experiência que jamais se esquece: você sente a perda sem sentir dor física, vivencia o luto sem ter um corpo pra enterrar, sente a agonia silenciosa de seu companheiro sem poder consolá-lo porque tenta, em vão, trabalhar a própria dor. Enfrenta as expressões de pena dos colegas de trabalho e familiares, sente-se inadequada, inútil e inepta enquanto mulher, pois acredita ser tão incompetente que não serve nem pra “forno”.

Só duas dores devem ser maiores que esta: a dor de perder um filho que você viu crescer, se tornar um ser humano lindo e que depois morre de forma besta, pelas mãos de um bandido ou estraçalhado num poste, após uma noite de bebedeira na balada. Ou ainda, a dor de uma mulher que descobre que nunca vai poder gerar os próprios filhos.

Quanto a mim, estou na encruzilhada de mais uma decisão em minha vida: ou corro contra o relógio biológico e tento, rapidamente, mais uma gestação (sutilmente ignorando a idéia de que essa nova gravidez, fatalmente, seria de risco), ou enfrento a situação da forma mais sensata, reconhecendo que já fiz meu papel gerador sobre a terra (afinal, já tenho dois filhos, hoje com 19 e 14 anos).

Librianos tendem a achar sempre a “saída do meio”. E essa saída seria não gestar (por conta dos riscos à minha saúde) e nem desistir da idéia de mais um filho, ou seja, ADOÇÃO. Como a decisão ainda não foi tomada, esperem os próximos capítulos.

Dizem que MÃE é AMOR. E amor não tem forma, método ou via específica para se manifestar, de modo que QUALQUER UM QUE TENHA MUITO AMOR PARA DAR PODE, EM TESE, SER MÃE.

Por isso, neste dia das mães, quero desejar felicidades a todos aqueles que já experimentaram esse amor, sejam como mães, como filhos, ou como os parceiros imprescindíveis na jornada de todas as mães e, muitas vezes, como substitutos competentes destas: os pais.

domingo, 4 de abril de 2010

Deu no blog da Psicopedagoga Rosely Saião.

PAIS ESTUDANTES


As escolas trabalham com seus alunos há mais ou menos dois meses. É de se esperar que, a esta altura, muitos estudantes já tenham percebido que têm obstáculos a enfrentar, dificuldades a superar, conflitos a resolver. Frequentar escola traz lá os seus problemas, todos sabem. No entanto, o que não sabíamos é que boa parte desses problemas acaba nas mãos dos pais. Da educação infantil à faculdade, eles têm assumido muitos dos contratempos escolares dos filhos.

Pais de universitários tentam negociar prazos de entrega de trabalho com professores e comparecem à faculdade para resolver problemas dos alunos com a secretaria. Muitos também são chamados pelas faculdades para reuniões e até recebem boletim de frequência e avaliação do filho -isso sem falar de mestrandos e doutorandos em situação semelhante.

Não há dúvida de que esses jovens, de classe média, estão infantilizados, e nem sequer se envergonham da situação. Ao contrário: é de muitos deles que parte o pedido de ajuda aos pais. Justamente quando finalizam o processo de amadurecimento iniciado na adolescência e estão prestes a entrar na vida adulta, são seduzidos a estacionar, quando não a regredir.

Quem tem filhos cursando o ensino médio ou o pré-vestibular carrega uma carga bem pesada. Pressionados pela sociedade, pressionam seus filhos para que deem conta da enorme quantidade de conteúdo passado pela escola e tirem boas notas, para que não percam aulas, para que entrem em uma faculdade reconhecida etc. Contratam professores particulares -muitas vezes indicados pela escola que o filho frequenta!-, dão prêmios e castigos, controlam horários de estudos, tudo em função do rendimento escolar. Mas para quem é importante, afinal, cursar uma faculdade?

Já quem tem filhos no ensino fundamental acaba por ter de atender a pedidos das escolas para que resolvam questões de indisciplina, de desatenção, de comportamentos inadequados ao espaço escolar, de recusa da autoridade do professor etc. No final, o aluno está lá na escola e os pais, aqui fora, tentam interferir no comportamento dele lá. Será que é possível? Tenho dúvidas, já que, quando mudam o papel social e o contexto, pode mudar muita coisa na maneira de se portar da criança.

Nem mesmo os pais das que frequentam a educação infantil ficam livres de arcar com questões da vida escolar dos filhos. São pesquisas e lições para serem feita em casa, reuniões para ouvir análises que a escola faz, ora do comportamento ora do desenvolvimento de seus filhos e até receber algumas orientações, inclusive de encaminhamentos.

Em resumo: hoje, quem tem filhos na escola quase se torna um repetente, já que precisa dar conta de questões que lá atrás, em sua infância, já foram vividas. E quase sempre sem contar com a ajuda dos pais, é bom ressaltar.

Talvez uma boa parceria da família com a escola pudesse ser a de que ambas conseguissem ensinar aos filhos e alunos que o compromisso escolar é deles, e apenas deles.

Categoria: Folha Equilíbrio

Escrito por Rosely Sayão em 04/04/2010 às 11h21

domingo, 28 de março de 2010

AMIZADES VIRTUAIS, ENCONTROS REAIS



Não existe, nos dias atuais, quem ainda não tenha experimentado a sensação: estar lá, sentado, geralmente encarando um ponto fixo no espaço, com uma mal disfarçada ansiedade que vai fazendo os minutos ganharem a densidade de meses, os chicletes ou cigarros irem sumindo rapidinho da embalagem e os ruídos da impaciência começarem a preencher o espaço: o  tamborilar de dedos sobre a mesa; o esfregar dos sapatos sobre o piso com um vai-vem incessante sob a mesa; o "pipipi" das teclinhas do celular usado como video-game e suspiros que parecem não dar conta de renovar adequadamente o ar dos pulmões; até que...

Eis que surge a razão de tanta espera, se aproximando devagar, olhando desconfiadamente, como se quisesse ter certeza de que o outro é realmente quem esperava encontrar (ou seria para dar tempo de desistir antes de chegar perto demais?).

Nessa hora, batimentos que deveriam acalmar-se, aceleram. Os segundos que antecedem o primeiro "oi" ao vivo parecem-se com aqueles que se seguem a um raio e prenunciam o trovão: um silêncio profundo, carregado de eletricidade.

Mas, se ambos foram sinceros, se a amizade virtual construiu-se sobre bases reais, esse "oi" é libertador!

Libertador como a chuva forte num final de tarde escaldante e abafado, uma taça de sorvete na hora daquela fome inconveniente na madrugada, uma pista de dança cheia com o melhor DJ tocando, uma rede preguiçosa no final do domingão, um beijo de língua inesquecível ou aquele abraço no meio do choro convulso que é promessa de cura de todas as mágoas, ou seja, puro prazer e conforto!!!

A partir daí, como é costume dizer, tudo é história. Cada pessoa fará o seu roteiro e não haverá duas histórias iguais. Mas a sensação da espera, ah, essa é recorrente e, dentro do seu pequeno desespero, é só a preparação para muitas emoções que, fatalmente, se seguirão.

terça-feira, 2 de março de 2010

MOTÉIS

Templos da luxúria? Lar do sexo ilícito, clandestino? Ou apenas um lugar calmo e com um clima diferente para fazer o que, em teoria, se pode fazer em qualquer outro lugar?

Seja como for, os motéis ainda guardam uma aura de mistério e atração sobre no imaginário coletivo que parece não morrer nunca.

Quem nunca adentrou um, sempre tem mil fantasias sobre o que encontraria lá. Quem já se acostumou a frequentá-los não esconde um certo fastio, um desejo mal disfarçado de poder estar num outro lugar mais seu, exclusivo, com seu cheiro nos lençóis, sua luz nas paredes e, principalmente, o bônus luxuoso de não precisar sair da cama só porque venceu o período de três horas!

Tá certo que motel bom tem coisas que o quarto da maioria de nós, pobres mortais, não tem: colchões de mola (que no passado já foram de água) onde o corpo repousa sem lembrar-se do mundo lá fora, ar condicionado (pra suar só de prazer ou para fazer aquele strip sem estragar o glamour com tremores de frio), frigobar, luzes estratégicas, cadeira erótica, hidromassagens maravilhosas (grandes o suficiente para duas pessoas), duchas poderosas (achar a temperatura exata exige certa prática, mas quando você consegue, que delícia!), entre outras diversões.

Aliás, o banho no motel tem muito em comum com a própria transa: a temperatura e a pressão da água tem que estar no ponto certo; o deslizar do sabonete ser tão suave quanto a boca do amante percorrendo os mesmos caminhos sinuosos sobre a pele; a toalha tão macia e cheirosa quanto aquele abraço do depois...já em casa, sempre no melhor do banho, não raro alguém vem bater na porta perguntando se você vai demorar.

A única coisa que sempre é brega, não importa o estabelecimento escolhido, é aquele controle de botões na cabeceira da cama. Não é o fim?

Outro detalhe que poderia ser abolido definitivamente é o canal de filmes eróticos. A maioria dos filmes é pré-histórica, chula e de uma vulgaridade que tira qualquer clima! Todo motel deveria ter aparelho de DVD, pra gente levar o filme erótico que mais combina com o estilo da noite escolhido pela gente, vocês não acham?

O quê? Você está pensando que, se eu tive tempo de observar tudo isso, o parceiro da vez certamente deixou a desejar? Mas não é nada disso...

É que os homens, em geral, nascem com um dispositivo de segurança parecido com aquele que existe nas instalações elétricas: após violenta sobrecarga de energia (também conhecida como "orgasmo") cai o relê e ele apaga. E o que vocês acham que a mulherada faz enquanto espera o "restabelecimento do serviço"? Observa.

Há todo tipo de motel numa cidade como São Paulo e eles oferecem quase tudo em matéria de diversão.
Só não são perfeitos porque ainda não fornecem o que é mais importante: uma pessoa especial para desfrutar com você de tudo isso.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Pratiquem o desapego!

Desapeguem-se!!!

De mágoas antigas, de idéias suicidas, de coisas ultrapassadas, de hábitos improdutivos.

Libere-se de tudo o que nunca te fez bem, assuma novas posturas ou, se você gosta de tudo o que você tem e que te cerca hoje, batalhe com mais afinco para mantê-las como estão.

Mas não se enganem: desapego é um exercício dolorido e que exige concentração constante!

Temos a mania do acúmulo, pois guardamos bugigangas que não usamos e que poderiam servir aos outros, coisas que nunca vamos comer até que se estraguem por ter vencido o prazo de validade, remédios com restinho no fundo do vidro que não rendem uma dose, batons que não dá pra retirar nem com cotonete da embalagem, roupas que não nos cabem mais, pessoas que não nos fazem mais felizes, amizades que feneceram como flores murchas e não jogamos fora, por parecer politicamente incorreto.

Sei que na última frase muitos pularam da cadeira e gritaram “EPA!”, mas é isso mesmo: quantas amizades estão no seu orkut, no seu celular, no msn apenas "pro forma" (você não fala com elas, não as procura, não as sente como amigas, às vezes até fala mal delas pra outros que considera realmente amigos!) e não tem a coragem de excluí-las formalmente porque não quer ninguém te questionando a respeito?

Não está na hora de termos essa coragem? Tirar fora tudo aquilo que não dá mais nada? Não é porque uma coisa parece não fazer diferença (está ali, mas não "fede nem cheira", como dizia minha mãe) que ela, efetivamente, não faça diferença.

Faz diferença sim! Porque o espaço que ela ocupa ali não pode ser preenchido por coisas ou pessoas novas que te façam feliz, te deem prazer ou tenham algo de útil a trazer pra sua vida, sejam ensinamentos, seja movimento, seja apenas paz.

Chega de ficarmos entupidos com coisas até garganta, sejam sapos, frases duras, gente arrogante, sapatos que machucam o pé, roupas que caíram de moda, maquiagem com prazo de validade vencido, lingerie velha (furada, desbotada e com elástico caindo), presentes que ganhamos e que nunca foram usados porque não são "a nossa cara", instrumentos que nunca aprendemos a tocar direito, pessoas que se dizem amigas mas que sequer conseguiram arranhar nosso "verniz social" pra chegar na camada feia que mostra exatamente quem somos.

O verdadeiro amigo é esse: ele vê o pior de nós: falhas de caráter, tristezas, medos, ansiedades. Mas sempre acreditam que temos chances, que a parte bonita ainda está compensando a feia.


Desejo que em 2010 todos nós consigamos fazer essa distinção de maneira clara e manter em nossa vida aquilo que realmente precisamos, que são definitivamente imprescindíveis para nossa sobrevivência ou felicidade. Incluindo os AMIGOS, sejam grandes, pequenos, próximos, distantes, mas sobretudo, verdadeiros."

Que amanhã seja o primeiro de vários dias em que você vai praticar o DESAPEGO com critério e muita sabedoria.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

RESGATES IMPOSSíVEIS

Você já ligou para alguém que foi muito importante em sua vida, alguém que você tenha amado muito, depois de muito tempo sem manter nenhum contato?

Se sim, você vai reconhecer de pronto o assunto que trato aqui.

É complicado até para descrever a sensação, como tentar encaixar a peça de um quebra cabeça que parece ser a certa (afinal, todos os ângulos ainda estão lá e parecem coincidir), mas você descobre que, na prática, a peça não entra mais naquele espaço.

Os sentimentos se misturam. Você ouve a voz do outro (tão familiar aos ouvidos!), a mesma entonação, o mesmo modo bonito de colocar as palavras que te encantou desde a primeira conversa ao telefone, mas, onde está a pessoa que você conheceu? Onde foi parar a essência dela?

O outro não é mais o mesmo (ou talvez, sejamos nós que tenhamos mudado, sei lá!) e parece estranho aos nossos ouvidos o discurso que ele adota agora. Talvez o que mais nos perturbe, nessas horas, é perceber que a vida do outro andou mesmo sem nossa presença nela, coisa que nosso senso de possessividade nunca permite que aceitemos com tranqüilidade.

Além disso, esse "progresso" do outro parece enfatizar ainda mais a nossa própria estagnação, e isso também dói muito. Irritamo-nos conosco mesmos por ter levado em frente o impulso de ligar, por não ter resistido; nos irritamos com o outro, que parece fazer questão absoluta de restar claro que nunca esteve tão bem.

Mas, enfim, ligamos. Não por qualquer motivo especial, apenas por saudade ou por poder aproveitar um bom pretexto (aniversário, natal, qualquer coisa assim...) e agora, o que era somente saudade se torna uma ausência física, quase palpável; uma sensação de abandono pesada e, ao mesmo tempo, etérea.

Demora para que tenhamos a compreensão de que a solitude e essa sensação de abandono que nos toma não é do outro para conosco, mas de nós mesmos para com nosso futuro.

Sem perceber, nos prendemos a sensações que moram no passado e que jamais serão resgatadas, mas que o telefonema, a voz familiar do outro lado e o "tudo de bom" que foi vivido com aquela pessoa fazem com que sintamos que o resgate era possível, mas foi frustrado. A mensagem é clara: a vida andou, as coisas mudaram. Para todos.

Faça a sua mudança pessoal, não se prenda a resgates impossíveis, esperanças vãs, projetos irrealizáveis, amores que nunca floresceram de fato.



Há sempre uma pessoa que realmente precisa de você para fazer acontecer um futuro feliz. Quando isso acontecer com você, vá ao banheiro, lave as lágrimas e olhe bem no espelho: lá você encontrará quem realmente importa e precisa muito de você.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

QUANDO O VENTO LEVANTA A SAIA


A mulher nunca experimentou tanta liberdade como nos últimos cinqüenta anos de nossa história recente.

Todo mundo festeja o advento da pílula anticoncepcional como o marco zero dessa liberdade, o que não deixa de ser parcialmente verdade. Por que apenas parcialmente? Porque só nos últimos dez anos a mulher vem percebendo e aprendendo a lidar com as conseqüências da liberdade sexual.

Os homens (casados ou solteiros) sempre puderam sair por aí fazendo sexo e depois voltar para casa como se nada de relevante tivesse acontecido; mas, a mulher...Se tivesse sorte, voltava para casa sem engravidar, mas ganhava a pecha de "mulher-fácil", sendo preterida dentro da sociedade. Se desse azar, voltaria grávida e seria também preterida e discriminada pela sociedade, com o agravante de que sua prole também seria discriminada.

Resumindo, a mulher que ousasse se liberar sexualmente estaria "fodida" e num sentido muito mais amplo que o de fazer sexo. Isso parece o retrato de tempos muitos distantes, mas não é. Foi logo ali atrás, há menos de 30 anos, quando a maioria de nós estava sendo colocada neste mundo.

Quando digo da liberdade parcial advinda do uso dos anticoncepcionais, quero tocar num ponto mais delicado e muito pouco discutido: a fragilidade emocional das mulheres. Deram a elas uma cartelinha e incutiram nelas a idéia de que aquilo era como a espada da She-Ra: era só brandir a cartelinha e você seria uma deusa, com poder para decidir onde, quando e com quem transar, ou seja, seria quase um homem.

Ah, se não fosse o "quase"...

Dizem que as mulheres ainda não aprenderam a dissociar sexo de relacionamento estável, e, ouso completar, nem relacionamento estável de amor. Sei que vozes inflamadas se erguerão contra o meu raciocínio, com as feministas me chamando de retrógrada, as românticas me chamando de obscena ou impudica, os homens com cara de "onde ela quer chegar?" e as mulheres inteligentes e realistas talvez querendo concordar comigo.

Vou tentar explicar melhor. Entendo que o que faz o indivíduo ser livre não é poder decidir o que quer fazer, mas fundamentalmente, decidir o que não quer de forma alguma. E a maioria das mulheres ainda não conquistou esse poder. É só parar para pensar:

1) Todas querem ganhar bem, mas nenhuma admite ser responsável pelo provimento financeiro do namorado ou marido, mesmo temporariamente, embora achem que ele tenha essa "obrigação" para com ela.

2) Todas querem ser independentes, ter o próprio carro, poder sair e voltar a hora que quiserem, mas nenhuma quer ir ao cinema sozinha (maior mico, vão notar que você deve ter algo errado, afinal, com essa idade e não tem companhia nem para ir ao cinema?)

3) Todas querem ser mães, ter filhos fofos como os de comercial de fraldas descartáveis, mas nenhuma quer a ruína física natural que acompanha esse processo. Pára, né? Só a Angelina Jolie sai da sala de parto com uma barriga mais sarada do que a da Gwen Stefani...

4) Todas querem ser desejadas, se vestem e se comportam para suscitar desejo, mas nenhuma quer que o cara pule em cima dela como um sedento que chega ao oásis. Querem romance: chuvas de pétalas de um helicóptero, faixas nas avenidas perto de casa prometendo amor eterno, mensagens de texto no celular a cada 30 minutos, beijos hollywoodianos antes do "vem cá, minha nega".

5) Todas querem ser lindas como as divas da passarela e da televisão, mas somente elas tem dinheiro, paciência e motivação real para suportar a dor dos medicamentos sendo injetados nas coxas pra acabar com a celulite, ficar horas com produtos de cheiro horrível em seu cabelo pra ganhar aquele efeito liso de comercial de shampoo, resistir bravamente às cânulas que rasgam a gordura localizada do seu baixo ventre na lipo... (fora o estrago no bolso e o risco de morte na mesa de cirurgia!). A maioria mesmo está sempre adiando o regime para segunda-feira, sem falar naquelas que nem pensam no assunto ou aquelas que levam a sério, mas ficam insuportavelmente obcecadas e chatas, pois não tem outro assunto na vida.

6) Todas querem ser a "tchutchuquinha do tigrão", delicadas, frágeis flores de violeta expostas à tempestade que precisam de uma redoma para sobreviver à tormenta. Querem ser Lois Lane, voando protegidas nos braços do Superman, mas esquecem que as Lois Lane tem mátéria urgente pra entregar, chefe ranzinza e chegam em casa cansadas, muitas vezes se deparando com a geladeira vazia e a cama mais vazia ainda...

Deu pra entender? As mulheres hoje passam por uma tremenda crise de identidade: olham para si mesmas e vêem a Branca de Neve - jovem, frágil, romântica e perdida num mundo cruel; olham no espelho do mundo e o reflexo é o da Rainha Má - linda, poderosa, decidida e fazendo acontecer a estória, mas já com prenúncio de não conhecer um "happy-end".

Aqui, chegamos ao que eu queria explicar: como os homens ora querem a Branca de Neve, ora suspiram pela Rainha Má, a maioria das mulheres fica com o pé em duas canoas, tentando dar conta dessa dualidade.

A maioria não consegue, claro!

Por isso digo que somos frágeis emocionalmente, tentando satisfazer expectativas de homens que também parecem não saber bem o que querem. A diferença é que eles escolhem uma trilha e não olham mais para trás e nós ficamos nos martirizando, tentando saber como teria sido, se fosse...

Por isso questiono um pouco as pessoas que enchem a boca para dizer que as mulheres conquistaram a liberdade...só experimentamos a mais pura sensação de liberdade quando, andando na rua, sem qualquer aviso, o vento nos levanta a saia: você está frágil, exposta...mas raramente se sente tão feliz!